Passando em frente ao prédio do
antigo Cine Rio Branco, em Varginha-MG, resolvo tirar uma foto [a que ilustra este texto] e me vêm uma ideia à cabeça...Por que
não compartilhar com meus leitores do Blog o texto que fiz para o Jornal
Planeta Legionis em novembro de 2006? A matéria tem quase uma década, mas ao
relê-la, percebi que merece ser divulgada... Na época, eu ainda nem havia entrado
na faculdade, mas já gostava de escrever...
A edição impressa é o único arquivo desse momento,
já que eu não tinha câmera digital e muito menos celular com câmera para
registrar. Na ocasião, entrevistamos o
saudoso Sr. Fernando Prince [falecido em 2014]. Após a publicação da matéria, recebi o primeiro grande
incentivo de minha carreira. Ao me encontrar na rua, Prince
comentou comigo que aquela foi a melhor matéria que haviam feito sobre o Cine
Rio Branco até então...jamais me esqueci daquele dia....Vale ressaltar
que estou postando o texto original, sem alterações, somente a título de
curiosidade, com o relato da época. Não tenho informações concretas sobre a
atual situação do imóvel. Leia do começo ao fim...
Assista no vídeo imagens inéditas do local!
Bilhete Premiado
Foram semanas de preparação,
investigação, pesquisas e negociações para chegarmos ao nome certo e agendarmos a
entrevista. Tiramos a sorte grande pois, o Papo Cabeça seria desenvolvido no
local onde exatamente tudo aconteceu; para que o encanto e a magia de lá,
descrito exaustivamente pelos seus admiradores, nos inspirasse e contagiasse...
No
horário combinado, o Sr. Fernando chegou, nos cumprimentou, pegou as chaves e
abriu. Ficamos sem reação. O sonho se tornou realidade! Antes de entrarmos,
demos uma olhada na rua, alguns curiosos xeretavam por ali. Sem nos importar,
abandonamos o mundo real e ingressamos no incrível universo do Cine Rio Branco...
Revelando Segredos
O Hall de Entrada estava relativamente limpo e conservado [a
limpeza é feita mensalmente]. Nas bombonieres há caixas de chocolates vazias e
um calendário de 1998. Os painéis, onde ficavam os cartazes dos filmes, não
anunciavam próximas atrações. Os sofás continuam convidativos, apesar da poeira.
E a roleta, repousa ao lado da cabine da bilheteria...Começamos a sessão de
perguntas, veja o resumo do que ouvimos..
“No início da década de 50, Varginha
contava com dois cinemas, o Cine Theatro Capitólio e o Cine Rex, ambos
administrados pela empresa cinematográfica Prince de Souza. Os dois já não
comportavam a população e nem ofereciam conforto suficiente. Dessa forma, em
1954, iniciamos a construção do Cine Rio Branco, projetado pelo Engenheiro José
Braga Jordão, com capacidade para 1400 pessoas, sendo 950 no andar de baixo e
450 no de cima.
Ele custou cerca de 13 milhões de cruzeiros, foi inaugurado no
dia 11 de agosto de 1956 e teve como estreia o filme 'Rapsódia', estrelado por
Elizabeth Taylor. Foi fundado pelo meu irmão, Aristides Prince de Souza. Eu era
menino, tenho vagas lembranças deste dia”, afirmou. Tentamos continuar o bate papo ao
atravessarmos as cortinas, porém, a enorme tela roubou toda a cena.
Arrasa-Quarteirão
A fama de ter uma das maiores telas do mundo não é enganosa. A lendária cortina
“mágica”, zela pelos seus 9 metros de altura por 18 metros de comprimento. É
simplesmente, ou melhor, luxuosamente fascinante. Emoldurados nas paredes, os
vasos de flores permanecem apagados e sem vida, que juntamente com as
incontáveis poltronas frias e a textura da parede em tons de rosa suave realçam
a melancolia do ambiente. Mas este cinema já teve sua época de glória e o Sr.
Fernando a descreveu pra gente...
“Desde a inauguração até o alvorecer dos anos
80, isso aqui lotava diariamente. Havia a sessão das 18h20min, das 20h40min e
aos domingos matinês às 14h30min. Alugávamos os filmes das distribuidoras e
eles eram exibidos durante sete dias. Os grandes sucessos ficavam quatro
semanas em cartaz. Estão na lista dos arrasa-quarteirão: ‘Ben Hur’, ‘O Rei
Leão’, ‘O Manto Sagrado’, ‘Titanic’, ‘Dança com Lobos’ e ‘Os Dez Mandamentos’.
Os longa-metragens tinham intervalo. Os jovens aproveitavam esse momento para
flertar. O primeiro beijo de muita gente foi no escurinho do Cine Rio Branco e
vários casais se conheceram aqui.
Do Cinema Nacional, podemos citar ‘Os
Trapalhões’ e ‘Xuxa’, que sempre garantiam bom público. No entanto, nenhum
deles se compara ao fenômeno ‘Mazzaropi’. O fluxo de gente era enorme. Famílias
inteiras vinham para assisti-lo, algumas moravam há mais de 10 km de distância,
era como se fosse um ritual. Quando Mazzaropi aparecia em cena e começava a
andar daquele jeito engraçado, a plateia ia ao delírio. Temos de homenageá-lo,
pois ele nunca pediu dinheiro ao governo para financiar suas produções. Entre
os recordes estão ‘Jeca Macumbeiro’, ‘O Corinthiano’ e ‘Tristeza do Jeca’”, enfatizou. Aproveitando a breve pausa, pedimos para conhecer o andar superior. E lá fomos
nós, subindo as escadas...
Sala de Projeção
No meio da escada, encontramos uma
espécie de “gaiola gigante”. Rapidamente descobrimos que se tratava do
Exaustor, que retirava o ar quente do cinema, para que o ventilador jogasse o
ar frio. Ao pisarmos no segundo andar, o que mais nos chamou atenção foi a sacada
e os pôsteres de dois astros de Hollywood: Gregori Peck e Tyrone Power.
Visitamos os banheiros, testamos as cadeiras recuáveis e Prince deu sequência à
conversa...
“Vale ressaltar as mudanças no perfil da juventude ao longo dos anos.
Quando passamos ‘O Exorcista’ pela primeira vez na década de 70, o público
ficou aterrorizado. Ao reprisá-lo vinte anos depois, ouviram-se gargalhadas.
Outro fato ocorreu em ‘Dio Como Te Amo’, no final, o mocinho ia embora de avião
e a mocinha não conseguia alcançá-lo. Então, ela pegava o microfone e começava
a cantar. O pessoal chorava de emoção. Anos depois, vaiaram a cena. Agora vocês
me esperem aqui pois tenho um presente para o jornal”, ao dizer isso, o
entrevistado desapareceu na escuridão...
A curiosidade, ansiedade e expectativa
invadiram nosso pensamento. De repente, enxergamos um clarão e uma porta
rangeu. Estávamos convidados para conhecer a sala de projeção. Subimos correndo
e entramos. Uau! Os dois projetores estavam lá! Atentos, entendemos seu
processo de funcionamento...foi o auge da matéria. Confira mais curiosidades...
“Ao início de cada sessão, soltávamos o prefixo. Aquela famosa música-ambiente
que recordamos com saudade. Utilizamos durante anos: ‘Love Is A Many Splendored
Thing’ – O Amor é uma Coisa muito Espelendorosa (S. Fain\P. Webster). Mais
tarde ela foi substituída por ‘Noturno’. Eram exibidos trailers e um jornal com
notícias do Brasil e do mundo. Havia o filme Piano (a imagem não ocupava a tela
toda) e os Cinemas Copi (a imagem cobria toda a tela)”, completou. Chegou a hora da
verdade! O instante que todos os leitores desta saga aguardavam...Perguntamos
sem rodeios: Por que o Cine Rio Branco fechou?
As cortinas se fecham
“O Cine
Rio Branco fechou por falta de público. A partir da metade da década de 80, o
movimento começou a cair por diversas razões como: televisão, barzinho,
videocassete e automóvel. O expressivo aumento da frota de veículos
proporcionou outras opções de lazer. No dia 20 de agosto de 1998 a empresa
Prince de Souza fechou o cinema. Em 1999 ele foi tombado como Patrimônio
Estadual. As lojas Pernambucanas chegaram a comprá-lo, mas depois desistiram. É
evidente que nossa família tem um sentimento especial pelo cinema. Nas ruas, ouvimos
a população dizer que é bonito, é histórico, falam em Centro Cultural...Mas
ninguém se interessou. Ficou só na conversa. Não temos nenhuma expectativa para
o futuro”, desabafou Sr. Fernando.
Para encerramos a matéria, pedimos as suas
considerações finais. “Fui praticamente criado aqui. Assisti quase todos os
filmes exibidos e pra mim, foi uma verdadeira escola. Por comodismo, hoje não
vou mais ao cinema, prefiro ver em casa. Na minha opinião, ‘Ben Hur’ é o melhor
filme de todos os tempos. Ele é completo pois engloba religiosidade, romance e
batalhas, já o assisti 11 vezes. O segundo melhor é ‘Forrest Gump – O Contador
de Histórias”. Isso não quer dizer que eu não goste de filmes atuais. Assisti
‘O Senhor dos Anéis’ e ‘Harry Potter’ e aprovei. O segredo de um bom filme está
na direção. O diretor é mais importante do que o ator. Enfim, creio que falta
aos filmes de hoje mensagens positivas que sirvam em nossa vida”, concluiu.
Na
época, fechei a matéria com alguns depoimentos de pessoas contando suas
lembranças do Cine Rio Branco. Que tal você, que leu até aqui este texto,
escrever um comentário com as suas recordações desse local que encantou gerações?
Comentários
Grande abraço.
O Cine Rio Branco fez parte da minha vida eu já assisti vários filmes la acompanhado da minha irmã e do meu irmão na época era a nossa segunda casa.
Era emocionante ver as cortinas se abrirem antes tocava uma musica linda e durante esta musica acontecia um espetáculo de luzes coloridas que acendiam e apagavam os quandro em formato de flores eram lindos eles também acompanhavam as luzes a minha preferida era a luz roxa que combinava com a escuro do cinema quando as cortinas se abriam era exibia aquela tela imensa o coração batia ate mais forte era um dos momentos mais especiais eu nunca irei esquecer
é muito triste ver que tudo isso acabou
Matheus, obrigado por me fazer lembrar de uma época boa de minha vida.